quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Ter fé é também correr riscos
O que é fé, senão uma aposta? Para aquilo se tem certeza a fé não é necessária. Fé é para aquilo que não se vê, que não se pode tanger, pode-se tão somente esperar. Ter fé é arriscar-se. Acreditar num futuro diferente e melhor é ter fé. Por isso que em Deus temos fé. Não o vemos, não o tocamos, mas cremos. É uma aposta que fazemos.
Isso acontece também nos relacionamentos. O casamento, por exemplo, é uma aposta. Não há certeza que vai dar certo, não se consegue prever o futuro. Mas quem se casa, o faz apostando que vai dar certo.
Em tudo na vida é assim. Por mais planejamento que se tenha, por mais que se tenha calculado todas as probabilidades, há sempre uma dose de imprevisão.
Quem não quer correr riscos não pode empreender coisa alguma, nem se relacionar com ninguém, porque relacionar-se é correr riscos, inclusive de se decepcionar muito e gravemente. Mas se não arriscar como saber?
Se não quer correr o risco de se decepcionar com pessoas, nunca se envolva, não faça amigos, se isole completamente, assim você não corre o risco de se machucar e também não machucará ninguém. Mas isso não é vida. É preciso arriscar-se.
Se você só vai participar de uma igreja quando encontrar uma em que as pessoas sejam perfeitas, cheias de fé, plenas de amor, retas em justiça, prontas para o céu, então se isole, fique só em sua casa, nunca entre em uma igreja. Mas se você aceita se arriscar para caminhar ao lado de gente capenga, falha, finita, pecadora, com todos os vícios e todas as virtudes que qualquer ser humano tem, então arrisque-se, envolva-se, comprometa-se com uma comunidade de fé.
Se você acha que o mundo não tem jeito, que nada nunca vai mudar, que os injustos sempre vão se dar bem e que os bons sempre vão sofrer, que não há nada que você possa fazer para alterar o mundo em sua volta para melhor, então não faça nada, fique olhando as coisas acontecerem e seja absorvido pelo seu cinismo. Mas se acredita que alguma coisa pode ser diferente e que você pode colaborar para isso; se você aposta que alguma coisa pode ser alterada se você deixar o imobilismo e o comodismo, então arrisque-se. Dê um salto de fé.
Se você acha que a vida é uma droga. Se não consegue ver nada de belo na vida, se não é agradecido por nada, então tem mesmo que ficar sentado num “trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”, como já cantou Raul Seixas. Mas você pode se arriscar e fazer algo.
Se você acha que as palavras de Jesus são uma balela e que a proposta de amor ao próximo como lei maior não vale nada e não muda nada, então tudo bem, continue como está, vivendo uma religiosidade fria, sem vida e irrelevante. Se você vê a Deus como um Papai Noel bíblico que está pronto a dar a você os brinquedinhos que você tanto pede, se sua relação com o sagrado é infantil e baseada na troca, então continue se infantilizando.
Mas se você vê algo de transformador na mensagem de Cristo, algo revolucionário na proposta dos Evangelhos, então arrisque-se e comece a agir de modo a alterar para melhor o atual estado de coisas. Isso é fé.
Márcio Rosa da Silva
Vi no http://marciorosa.wordpress.com/2011/10/21/ter-fe-e-tambem-correr-riscos/
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