Por Sandro Moraes
Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer" (Apóstolo Paulo em Romanos 3.10-12 NVI) .
Os defensores do determinismo fatalista costumam utilizar o texto mencionado supra para, por exemplo, negar o livre-arbítrio, propondo que o ser humano é capaz apenas de praticar o mal e só para este tem inclinação.
A dificuldade dessa noção habita no próprio fato de que a história é repleta de atos de bondade do ser humano, muito embora a violência seja praticamente onipresente. O que dizer então do humanitarismo, da caridade, dos bombeiros que salvam vidas. sendo que alguns chegam a perder as suas próprias por isso, ou daqueles que abriram mão de uma vida confortável para se dedicar aos pobres da África ou da Índia? Seriam atos de maldade camufladas de justiça? Impensável e impossível.
Ora, dizer que o homem é incapaz de praticar o bem baseado nos dizeres do apóstolo Paulo é um tipo de literalismo extremado e desnecessário que só causa confusão. A má aplicação dos versículos de Romanos 3, entretanto, pode ser desfeita com uma simples aplicação prática. É fácil perceber que o argumento de que nos atos humanos só residem perversidades é desmoronável do ponto de vista histórico, filosófico e bíblico.
Exemplos relevantes na história recente
Membro do partido nazista, o alemão Oskar Schindler tornou-se famoso por ter livrado do holocausto 1.200 judeus por ocasião da Segunda Grande Guerra. Ele havia prosperado durante a guerra mas gastou toda a sua fortuna para subornar nazistas e prestar ajuda aos judeus da famosa Lista de Schindler. Morreu pobre em 1974 na Alemanha aos 66 anos de idade e foi enterrado com honras de herói no cemitério no Monte Sião em Jerusalém. O nome dele foi registrado na Avenida dos Justos do museu do holocausto em Jerusalém junto com outras 100 personalidades não judias que evitaram que judeus entrassem na fila dos milhões do holocausto exterminados em campos de concentração.
Já a missionária católica Madre Teresa de Calcutá ficou mundialmente famosa por ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1979, corolário da sua dedicação aos pobres de Calcutá na Índia, trabalho que obteve tentáculos em outras partes do mundo. Madre Teresa ensinou crianças a ler juntamente com regras de higiene, angariava todos os dias donativos para os necessitados e a partir do decênio de 1950 empenhou-se no auxílio dos doentes de lepra. O trabalho dela inspirou a criação de centros de apoio a leprosos, idosos e aidéticos em vários países, além da fundação de escolas, orfanatos e trabalhos de reabilitação de presos.
Muitos outros exemplos de famosos e anônimos em toda história que fizeram uso de suas mãos, talentos e disposição para ajudar o próximo e enfrentar injustiças sociais poderiam ser mencionados. Desnecessário e a lista seria quase interminável.
Provas bíblicas de que o homem pode praticar o bem
Agora biblicamente falando até mesmo o Senhor Jesus Cristo disse que o homem é capaz de fazer o bem:
"Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mateus 6.11)
"E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os ‘pecadores’ agem assim" (Luca 6.33 NVI).
Tiago disse que quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado (Tiago 4.17). Ele não falaria isso se não fôssemos capazes de fazer o bem.
No Antigo Testamento existem relatos interessantes até mesmo de ímpios praticando o bem.
Se o homem fosse totalmente depravado, habilitado a somente praticar maldades sem restrições, a humanidade já teria chegado à extinção ou perto disso.
Então o que o apóstolo Paulo quis dizer com “não há ninguém que faça o bem, nenhum sequer”?
A teologia paulina da universalidade do pecado
Paulo apresentou no capítulo 3 de sua carta aos romanos uma coletânea de citações do Antigo Testamento apenas para substancializar sua teologia concernente à universalidade do pecado. Ele acusou tanto judeus e gentios de serem pecadores; Significa que toda a humanidade está sob o poder e condenação do pecado. As citações veterotestamentárias não são literais. O apóstolo fez uso de hipérbole para mostrar pedagogicamente que todos são ímpios para, posteriormente, revelar que Deus propiciou um meio de justificação para os homens por meio de Cristo.
O homem pode fazer o bem, mas não pode salvar-se
Podemos então facilmente inferir pela teologia de Paulo que o homem é capaz sim de praticar o bem, contudo, não o suficiente para torná-lo justo diante de Deus obtendo mérito para auto-salvação. Afinal, todos nós somos como o impuro e todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo (Isaías 64.6).
Aos olhos de Deus ninguém é bonzinho, merecedor da salvação. Esta é concedida inteiramente pela graça de Deus. No homem não há mérito.
"...não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tito 3.5)."Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos" (Efésio 2.8-10 NVI).
Somos salvos não pelas boas obras, mas para elas. Somos salvos não porque praticamos boas obras, antes, praticamos boas obras porque somos salvos. Complementando Paulo, Tiago disse que a fé sem obras é morta. Corretíssimo. A fé genuína não é estéril, antes produz frutos: as boas obras que evidenciam que fomos alcançados pela salvação divina.
"Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras" (Tito 2.14).
Vi no http://nocaminhodagraca.blogspot.com/2011/02/e-o-homem-incapaz-de-praticar-o-bem.html#more
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