Quando Jesus multiplicou o pão e alimentou uma multidão, ele olhava para além da fome física. Havia uma fome naquela multidão que só seria saciada com um outro tipo de pão. É uma fome que todos nós temos, mas não é apenas do pão que perece, não é apenas de comida, nem uma sede só de bebida. É mais. É como aquela saudade de tudo o que ainda não vi, como cantou Renato Russo. É como uma ânsia pelo transcendente que não se explica, apenas se sente. É como aquele sentimento tão bem poetizado por Agostinho, o Santo: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti”.
A questão é: as pessoas querem realmente o pão que sacia essa fome? Ou será que buscam soluções que não passam de um arremedo formado por uma religiosidade medieval? Será que em vez de buscarem o Pão da Vida, querem mesmo é um naco de um pãozinho seco que é oferecido facilmente, mas que não alimenta a alma nem dá sentido a vida, apenas mata a fome por um instante e depois se quer mais.
Em outras palavras, será que as pessoas querem mesmo Jesus e sua mensagem, ou querem um deus que resolva seus problemas e as ajude a se darem bem sem muito esforço?
A parte mais visível, mais midiática, da igreja brasileira conseguiu vender um cristianismo medieval pré-reforma. Naquela época as pessoas pagavam para terem um lugar no céu, para conseguirem o favor divino, acreditavam em relíquias, etc. Pois hoje há uma multidão que lota auditórios disposta a pagar para conseguir um emprego sem muita dificuldade, para passar no concurso sem muito estudo, para ter uma doença curada sem nenhum tratamento. Estão dispostos a pagar o que for necessário para serem considerados filhos preferidos de Deus.
Não querem saber do Deus de amor, mas querem muito saber do deus de milagres, ainda que se tenha que pagar por eles. Mercantilizaram a fé. O produto maior desse comércio diabólico é deus. Não Deus, o Deus de Jesus, o Deus dos Evangelhos, mas um deus, um deusinho caprichoso, que aceita suborno para abençoar seus filhos. O Deus de Jesus não aceita suborno!
Deus não tem filhos preferidos. Deus nos ama a todos igualmente, com a mesma intensidade, com o mesmo amor. Porque vou exigir que Ele dê mais atenção para mim, então? Oração não é convencer a Deus do que é o melhor a fazer. Oração é derramar-se diante de Deus, para ser transformado por Ele, e não para transformá-lo. Oração é uma conversa entre um filho e um Pai, de maneira desinteressada, em que o filho se contenta em simplesmente ter a presença discreta do Pai.
A proposta de vida que Jesus traz não é a de uma religiosidade mágica que livrará as pessoas das agruras a todos impostas. Ele reprova aqueles que o seguem por causa do pão. Fica insatisfeito com isso. Seu discurso é que se alimentem do Pão da Vida que desceu do céu. Que tenham comunhão com ele e com sua mensagem, que tenham o seu caráter, o caráter de Cristo. Isso seria se alimentar do Pão da Vida.
Infelizmente é grande a multidão que, em vez do Pão da Vida, prefere o pão seco de uma religiosidade egoísta, que de cristã só tem o nome.
Márcio Rosa da Silva
Vi no http://marciorosa.wordpress.com/
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